O Motor Clássico está de volta
FIL, Lisboa, tecnologia revolucionária (para a época), palestras, exposições, “networking”, empreendedores do ramo e milhares de participantes. Após três anos de pausa, a Web Summit do automóvel clássico está finalmente de regresso (Agora na Cordoaria Nacional). Façamos uma retrospectiva à reportagem original da última edição do Motor Clássico, em 2019.
O Motor Clássico em Lisboa dá o tiro de partida silencioso a mais uma temporada de festividades no calendário de feiras e grandes eventos dedicados ao automóvel antigo em Portugal.
Apesar de indiscutivelmente uma feira dedicada à história da locomoção motorizada, este ano o Motor Clássico decidiu esticar a régua do tempo, mantendo o apelo para os atuais fãs do evento, mas garantido entretenimento para aquele familiar que o acompanha por favor (e que mais tarde cobra), seja o tio ecologista, ou o sobrinho que usa boné ao contrário e que prefere a ponte Vasco da Gama para transitar entre margens. Seja qual for a faixa etária, há sempre um expositor para todos os gostos: Clássicos, super-desportivos modernos ou até, uma novidade este ano, automóveis elétricos. Logo à entrada, a primeira impressão da feira era feita através de um par contemporâneo de Lamborghini, Aventador e Huracán respectivamente. Imediatamente do lado esquerdo, um Tesla X com portas asa-de-gaivota.
A garantir o equilíbrio e o bom-senso, do lado direito, o CPAA apresentava um leque bastante interessante de clássicos, entre eles alguns exemplares únicos em Portugal, como o caso do Citroen DS 21 Cabriolet Palm Beach, versão Henri Chapron de 1966, Citroen 11 False Cabriolet de 1937 e Citroen 5CV, o automóvel mais antigo exposto no salão. Todos eles, claro está, a celebrar um dos temas principais do evento: Os 100 anos da Citroen.
O grande aniversariante
Outro protagonista com direito a uma fatia do bolo é a Bugatti, que ultrapassa a barreira centenária este ano, estando representada pelas obras primas de Ettore Bugatti: O inesquecível EB110 e um pré-guerra Type 40 Grand Sport, ambos expostos no stand do Museu do Caramulo. Como já se tornou hábito, o Motor Clássico conta com um leque de parceiros institucionais dos mais variados sectores, a destacar a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Dafundo com alguns veículos clássicos de combate a incêndios, assim como viaturas de apoio, como é o caso da belíssima ambulância Skoda 1201 que atraiu vários curiosos.
A afluência de clubes ao Motor Clássico foi satisfatória, embora com alguma inconsistência na forma como se apresentam ao público. De destacar o Alfa Romeo Clube de Portugal, que acompanhado por um desportivo 4C, conseguiu criar uma composição interessante e criativa com balões a representar as cores da “Il tricolore”, a bandeira de Itália. Tal como a SportClasse, que recriou uma pequena e acolhedora sala de estar decorada com boa fotografia e luz apropriada.
Além do óbvio
Para além dos tradicionais expositores, o Motor Clássico tem muito para oferecer e entre vendedores e artistas entalados no meio de um labirinto, encontramos ainda o Leilão de automobilia e as Motor Talks. No leilão, composto principalmente por cartazes antigos, emblemas e figuras relacionadas com automobilismo, foram vendidas várias parcelas, inclusive o Volvo 245 DL de 1976 “barn find” de um único dono, parado há mais de 20 anos. Esta é uma atividade paralela do evento que beneficiaria muito de uma zona dedicada, para anular o ruído e a azáfama dos corredores circundantes. Pode-se dizer o mesmo dos Motor Talks, um conceito muito interessante, mas que peca pela falta de um local mais apropriado e com melhores condições de visualização para o público. Porque não até juntar os dois num único palco maior? As Talks dividem-se entre formais e informais, sendo que das primeiras se destacou a apresentação do livro “Automóveis Portugueses” e do livro "Henrique Lehrfeld e o Bugatti 35B” de José Barros Rodrigues. Nas informais, vários participantes do público foram entrevistados de forma espontânea, dando azo a conversas bastante engraçadas e enriquecedoras.
Diversão para toda a família
Para além dos espaços que mencionei, a grande novidade deste ano foi o "Gaming center". Mais uma vez tomando uma decisão mais abrangente, dirigiu-se a um público mais casual e de todas as idades, disponibilizando várias arcadas, mesas de pinball, headsets de realidade virtual e até consolas de videojogos, ao invés dos mais “sérios” e difíceis simuladores de condução. A zona exterior da feira, que outrora era dedicada totalmente ao público e aos encontros de clubes, estava este ano parcialmente reduzida, estando a outra metade dedicada a automóveis para venda. É certo que o clima em Lisboa esteve instável durante o fim de semana, ainda assim grande parte da tarde foi banhada por um agradável sol primaveril. Ainda assim, a mistura entre tipos e classes de automóveis era notória, denunciando uma curadoria do estacionamento que poderia ter sido mais eficaz.
É esta inconsistência que faz separar as águas entre o público visitante. Se por um lado temos os adeptos ferrenhos do Motor Clássico, que o visitam ano após ano e se queixam da repetição de automóveis, do elevado número de automóveis modernos ou da presença de automóveis elétricos, por outro temos um público casual composto por novas caras, mais facilmente impressionável e com um sentido crítico menos afinado. É um equilíbrio delicado que a organização terá que alcançar nas próximas edições. Um evento com 40.000 visitantes anuais gera grandes expectativas, e geri-las será com certeza um desafio para os próximos anos.
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